Research Article |
Corresponding author: Georg de Oliveira Müller ( georg.muller@hotmail.com ) Academic editor: Ana Maria Leal-Zanchet
© 2020 Georg de Oliveira Müller, Luciana Mara Temponi de Oliveira.
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Citation:
Müller GO, Oliveira LMT (2020) Métricas de paisagem na avaliação da efetividade de proteção do Parque Estadual da Costa do Sol, uma unidade de conservação fragmentada no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Neotropical Biology and Conservation 15(1): 1-18. https://doi.org/10.3897/neotropical.15.e49490
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A região de Cabo Frio e seu entorno, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, apresenta alta riqueza de espécies vegetais e um grande número de endemismos, o que a torna uma área prioritária para a conservação, sendo conhecida como o Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio (CDVCF). O Parque Estadual da Costa do Sol (PECSol) é a maior Unidade de Conservação de Proteção Integral da região e foi concebido num modelo descontínuo, com 43 áreas distintas pertencentes a quatro grandes núcleos: Massambaba, Atalaia-Dama Branca, Pau-Brasil e Sapiatiba. Dada a natureza fragmentada do PECSol, este estudo teve como objetivo avaliar, através de métricas de paisagem, a efetividade do PECSol como elemento protetor da biodiversidade do CDVCF, considerando seus 43 fragmentos como eventuais remanescentes únicos de áreas naturais na região. Os resultados apontaram que os fragmentos do PECSol sofrem forte pressão de atividades antrópicas em sua vizinhança imediata, e estão, de maneira geral, altamente suscetíveis a efeitos de borda. A conectividade entre os fragmentos é em geral baixa, tendo os fragmentos do núcleo Massambaba apresentado os melhores indicadores de disponibilidade de habitat, com valores entre 0,18 e 0,57 num índice que varia de 0 a 1. Nenhum outro fragmento apresentou valor acima de 0,10. Outras quatro grandes áreas naturais da região – a Ilha de Cabo Frio, a porção vegetada da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, a área de restinga na Estação Radiogoniométrica da Marinha em Campos Novos e as Dunas do Peró – apresentam grande importância para a disponibilidade de habitat no CDVCF. A inclusão destas áreas no PECSol ou em outra Unidade de Conservação de Proteção Integral é recomendada.
The Cabo Frio region and its surroundings, in the state of Rio de Janeiro’s coast, Brazil, is an area with high plant species richness and high endemism, which makes it a priority area for conservation, known as the Centre of Plant Diversity of Cabo Frio (CPDCF). The State Park of Costa do Sol (SPCSol) is the largest conservation unit with integral protection in the region and was developed in a discontinuous model, being formed by 43 distinct areas grouped in four large nuclei: Massambaba, Atalaia-Dama Branca, Pau-Brasil and Sapiatiba. Given the fragmented aspect of the SPCSol, the goal of the present study was to evaluate, through landscape metrics, the effectiveness of the SPCSol as a protective tool for the CPDCF’s biodiversity, accounting its 43 fragments as eventual unique remnants of natural areas in the region. Results showed that the SPCSol’s fragments are under strong pressure from anthropic activities in its direct vicinity, being in general highly susceptive to edge effects. The connectivity between fragments is low, with the Massambaba nucleus presenting the best values of habitat availability, varying between 0.18 and 0.57 in an index that ranges from 0 to 1. None of the other fragments presented values above 0.10. Another four large natural areas in the region – the Cabo Frio Island, the vegetated portion of São Pedro da Aldeia’s Naval Air Base, the “restinga” area in the Navy’s Radio Direction Finding Station in Campos Novos and the Peró Dunes – showed high importance for habitat availability in the CPDCF. The inclusion of these areas in the SPCSol or in another conservation unit with integral protection is recommended.
Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio, ecologia de paisagens, fragmentação de habitats
Centre of Plant Diversity of Cabo Frio, landscape ecology, habitat fragmentation
A destruição de habitats naturais, em geral para o desenvolvimento de atividades humanas, é a maior causa de perda de biodiversidade nos dias atuais (
Além dos efeitos de área e de distância consolidados pela teoria da biogeografia de ilhas, outro fator que influencia na riqueza de espécies de fragmentos de habitat são os efeitos de borda. Nas porções limítrofes entre fragmentos de vegetação e as áreas modificadas no seu entorno há alterações graduais em fatores físicos como incidência de radiação solar, umidade, temperatura e exposição aos ventos, o que interfere na sobrevivência de espécies menos generalistas nestas áreas de borda, reduzindo sua riqueza (
Outro aspecto determinante na riqueza de um fragmento de habitat é sua conectividade com outros fragmentos.
A crescente fragmentação dos habitats naturais e a necessidade de esforços mais efetivos de conservação da biodiversidade levaram ao surgimento da Ecologia de Paisagens. Essa ciência interdisciplinar busca compreender a influência dos padrões espaciais nos processos ecológicos e enxerga o conceito de paisagem em diferentes escalas espaciais e temporais (
No Estado do Rio de Janeiro, na porção da costa conhecida como Região dos Lagos, encontra-se o Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio (CDVCF). Descrito por
A região do CDVCF possui diversas Unidades de Conservação, sendo sua maioria Unidades de Uso Sustentável. A principal Unidade de Proteção Integral da região é o Parque Estadual da Costa do Sol (PECSol). Criado em 2011 com o objetivo de proteger os ecossistemas remanescentes da região e os elementos característicos de sua paisagem, o PECSol segue um modelo de parque não-contínuo, sendo formado por 43 fragmentos distintos, perfazendo uma área total aproximada de 98,4km2. Este modelo de parque fragmentado, porém, não é explicitamente previsto pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (
Considerando a natureza fragmentada do Parque Estadual da Costa do Sol e a biodiversidade única do Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio, este estudo teve como objetivo realizar uma avaliação quantitativa, por meio de métricas de paisagem, e qualitativa da efetividade do PECSol em preservar a biodiversidade do CDVCF a longo prazo num cenário hipotético onde as áreas por ele protegidas sejam as últimas áreas naturais remanescentes na região. A pesquisa tem ainda como objetivos específicos: identificar o grau de pressão que sofrem as áreas do PECSol pelas atividades antrópicas em sua vizinhança; avaliar a suscetibilidade das áreas do PECSol a efeitos de borda; verificar o grau de isolamento das áreas do PECSol entre si e apontar aquelas que melhor contribuem para a conectividade dos remanescentes vegetacionais do CDVCF; e avaliar a importância de outras áreas naturais da região não protegidas pelo PECSol.
A área de estudo é o Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio (CDVCF), conforme descrito por
O CDVCF possui menos de 10% de sua área com altitudes acima de 100m, atingindo máxima de cerca de 500m (
Seu clima é semi-árido quente, em contraste com o clima tropical úmido predominante no resto do Estado. Sua precipitação anual média é de cerca de 800mm, valor bem abaixo das demais áreas costeiras do Estado, que possuem média de 1.200mm, podendo chegar a mais de 2.000mm em Angra dos Reis. A evaporação média é de 1.200 a 1.400mm/ano (
A vegetação se apresenta de forma heterogênea ao longo da paisagem. Nas áreas baixas mais próximas ao mar há formações de restingas, com estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos sobre solos arenosos. Nas áreas mais interioranas encontra-se vegetação ripária junto aos leitos dos rios e em depressões alagáveis, e formações de florestas estacionais, como nas Serras de Sapiatiba e das Emerenças. A floresta ombrófila está presente nas áreas que demarcam os limites externos do CDVCF, onde o clima faz a transição para o tropical úmido, como na Serra do Mato Grosso. Há alguns pequenos manguezais, estando o mais expressivo próximo à desembocadura do rio São João. Sobre os maciços costeiros desde a península de Búzios até a Ilha de Cabo Frio encontra-se uma vegetação com fitofisionomias de savana estépica, com muitas plantas xerofíticas, adaptadas à escassez hídrica, com destaque às famílias Cactaceae e Bromeliaceae (
No CDVCF está situado o Parque Estadual da Costa do Sol (PECSol), maior Unidade de Conservação de Proteção Integral da região. Com área total aproximada de 98,4km2, o PECSol é formado por 43 fragmentos distintos (Figura
Por meio do programa QGIS, versão 2.18, criou-se um projeto onde foram adicionadas as camadas vetoriais com as áreas do Parque Estadual da Costa do Sol e de sua Zona de Amortecimento, além do mapeamento de cobertura e uso da terra no CDVCF de
Para analisar o grau de pressão sofrido pelos fragmentos do PECSol pelas atividades antrópicas em sua vizinhança optou-se por identificar as classes de cobertura e uso da terra que ocorrem em sua Zona de Amortecimento (Figura
Para calcular a proporção de cada classe de uso dentro da ZA, sobrepôs-se o vetor da ZA ao mapeamento de cobertura e uso da terra de
Para avaliar o grau de suscetibilidade a efeitos de borda dos fragmentos do PECSol, calculou-se a área e o perímetro de cada um deles. A partir dos valores obtidos, calculou-se o Índice de Circularidade (IC) de cada fragmento. O IC é comumente usado em estudos de bacias hidrográficas e de fragmentação de habitats (
Na qual A é a área do fragmento e P seu perímetro. Esse índice retorna valor 1 para formas perfeitamente circulares e valores entre 0 e 1 para polígonos não circulares, aproximando-se de zero conforme tornam-se mais alongados. Quanto mais irregular for a forma de um fragmento, maior será sua extensão de bordas e menor será a sua área central livre dos efeitos de borda (
Para avaliar a conectividade entre os fragmentos, utilizou-se o Índice Integral de Conectividade (IIC) (
Em que a é a área de cada fragmento, nlij é o número de ligações (links) no menor caminho (distância topológica) entre os fragmentos i e j (com valor 0 quando não interligados) e AL é a área da paisagem (todo o mosaico, incluindo habitat e não-habitat). Esse índice retorna valores entre 0 e 1, sendo 1 correspondente ao caso hipotético em que a paisagem inteira é preenchida por habitat (homogênea), e tendendo a 0 quanto menor for a disponibilidade de habitat (por área e por conectividade).
Para o cálculo do IIC utilizou-se o programa CONEFOR SENSINODE, versão 2.6. Os parâmetros utilizados foram a área dos fragmentos, os valores da menor distância euclidiana entre cada fragmento do PECSol e os demais, a área total da paisagem e a distância máxima de dispersão de organismos, cujo valor define os pares de fragmentos com uma distância entre si igual ou menor a este valor como funcionalmente conectados. A área dos fragmentos foi obtida anteriormente no QGIS e os valores da menor distância euclidiana entre os fragmentos foram obtidos por meio do plugin do CONEFOR para o QGIS. Para a área total da paisagem, foi considerada a área aproximada do CDVCF de 1.500km2. Quanto ao valor máximo de dispersão de organismos, como este estudo buscou avaliar a conectividade do PECSol para a biodiversidade do CDVCF como um todo, e não para uma determinada espécie, adotou-se uma metodologia similar à de
O programa CONEFOR fornece também a variação no IIC (dIIC) promovida pela retirada de um fragmento do cálculo do IIC, através da fórmula:
Sendo IIC’ um novo valor de IIC obtido após a remoção de um determinado fragmento. Este índice mostra, em porcentagem, o quanto a perda de um fragmento reduziria a conectividade e disponibilidade de habitat da paisagem, e pode ser interpretado como a importância individual de cada fragmento para a conectividade (
Realizou-se uma segunda análise de conectividade onde foram incluídas outras quatro áreas do CDVCF que não são protegidas por Unidades de Conservação de Proteção Integral, mas que possuem grandes porções de vegetação remanescente, sendo elas: a Ilha de Cabo Frio, em Arraial do Cabo; a porção vegetada da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA); a área de restinga arbórea da Estação Radiogoniométrica da Marinha em Campos Novos (ERMCN), no distrito de Tamoios em Cabo Frio; e as Dunas do Peró, em Cabo Frio. Para efeito de identificação, estas áreas receberam os números 44, 45, 46 e 47, respectivamente, seguindo a numeração dos fragmentos do PECSol. Os polígonos destas áreas foram manualmente vetorizados sobre imagens de satélite DigitalGlobe, visualizadas com o plugin “OpenLayers” do QGIS.
O segundo cálculo do IIC seguiu a mesma metodologia do cálculo anterior, sendo que as quatro áreas adicionais foram incluídas através da opção “there are nodes to add” do CONEFOR. Assim, o cálculo de dIIC desses fragmentos tem a sua lógica invertida, medindo o acréscimo na conectividade da paisagem que a adição desses fragmentos promoveria, sendo assim possível mensurar o benefício que sua proteção traria para além daqueles protegidos pelo PECSol.
Um resumo de toda a metodologia utilizada neste estudo é apresentado na Figura
Resumo da metodologia adotada para avaliação da efetividade de proteção do Parque Estadual da Costa do Sol (PECSol), Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio (CDVCF), Rio de Janeiro, Brasil. IC: Índice de Circularidade; IIC: Índice Integral de Conectividade; SIG: Sistema de Informação Geográfica; ZA: Zona de Amortecimento.
As classes de uso da terra mais expressivas identificadas na ZA do PECSol foram: corpos d’água (26,06%), atividades agropecuárias (24,74%) e áreas urbanas (16,34%). A grande proporção de corpos d’água se dá pela proximidade dos fragmentos do PECSol tanto do mar quanto do sistema lagunar da região. A Área de Proteção Ambiental Estadual do Pau-Brasil, outra UC da região que foi definida como uma das áreas que compõem a ZA do PECSol (
Proporção das classes de uso da terra na Zona de Amortecimento do Parque Estadual da Costa do Sol, Rio de Janeiro, Brasil. A divisão em quatro grandes classes: Áreas Vegetadas, que englobam todas as áreas com cobertura vegetal; Corpos d’Água; Solo Exposto, que incluiu dunas e praias; e Áreas Antrópicas, formadas por Atividades Agropecuárias, Áreas Urbanas e Salinas. B proporções de uso desconsiderando os Corpos d’Água, com as Áreas Vegetadas dividas em Vegetação Primária e Vegetação Secundária, e Áreas Antrópicas divididas em Atividades Agropecuárias, Áreas Urbanas e Salinas.
Esses dados revelam que há poucos remanescentes de vegetação no entorno do PECSol e muitas áreas antropizadas imediatamente adjacentes a ele, em especial áreas urbanas e pastagens, com destaque também para a grande presença de salinas, setor mais forte da economia da região após o turismo. Vários dos fragmentos do PECSol estão dentro do perímetro urbano de algumas das principais cidades da região, como Cabo Frio e Búzios. Destaca-se que esta análise foi gerada sobre o mapeamento de cobertura uso da terra de
A disposição dos remanescentes vegetacionais em meio a um mosaico de usos da terra diversificados também justifica a escolha do Poder Público pelo modelo de parque descontínuo, visto que já não havia mais nenhuma grande área natural remanescente contínua em escala compatível à do Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio. Entretanto, áreas protegidas cercadas pela presença de populações humanas estão sujeitas a diversos impactos (
O IC médio dos 43 fragmentos do PECSol é de 0,45, dentro da faixa intermediária de suscetibilidade a efeitos de borda, conforme observado na Figura
Resumo das métricas (área, perímetro, Índice de Circularidade – IC – e valores de importância do Índice Integral de Conectividade para os cinco limiares de dispersão calculados – dIIC50 a dIIC2000 – e a média desses valores) de cada fragmento do Parque Estadual da Costa do Sol (1–43), e das outras quatro áreas naturais (fragmentos 44–47) analisadas no Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil. *: ilhas.
Fragmento | Área (km2) | Perímetro (km) | IC | dIIC-50 | dIIC-100 | dIIC-500 | dIIC-1000 | dIIC-2000 | dIIC médio |
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1 | 27,140985 | 53,066 | 0,121 | 54,8977 | 54,8977 | 62,7793 | 60,0790 | 55,5054 | 57,6318 |
2 | 5,418185 | 25,132 | 0,108 | 2,1878 | 2,1878 | 30,8062 | 29,4812 | 27,2369 | 18,3800 |
3 | 17,577696 | 47,557 | 0,098 | 23,0265 | 23,0264 | 37,7314 | 36,1085 | 33,3597 | 30,6505 |
4 | 7,880859 | 29,595 | 0,113 | 4,6286 | 4,6286 | 3,2445 | 6,3016 | 8,9940 | 5,5595 |
5* | 0,031709 | 0,886 | 0,507 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0022 | 0,0161 | 0,0291 | 0,0095 |
6* | 0,005087 | 0,317 | 0,635 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0002 | 0,0026 | 0,0047 | 0,0015 |
7 | 1,145612 | 9,858 | 0,148 | 0,0978 | 0,0978 | 0,0707 | 0,8020 | 1,0753 | 0,4287 |
8* | 0,425036 | 2,65 | 0,760 | 0,0135 | 0,0135 | 0,0351 | 0,0336 | 0,3018 | 0,0795 |
9 | 1,155779 | 6,966 | 0,299 | 0,0996 | 0,0996 | 0,0954 | 0,0913 | 1,3747 | 0,3521 |
10 | 0,673049 | 4,88 | 0,355 | 0,0338 | 0,0338 | 0,0395 | 0,5050 | 0,7466 | 0,2717 |
11 | 0,414106 | 2,857 | 0,637 | 0,0128 | 0,0128 | 0,0239 | 2,9254 | 0,4505 | 0,6851 |
12* | 0,026328 | 0,89 | 0,417 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0013 | 0,0198 | 0,0252 | 0,0093 |
13 | 8,05398 | 17,884 | 0,316 | 4,8342 | 4,8342 | 3,3887 | 6,0433 | 11,8826 | 6,1966 |
14 | 2,936337 | 12,477 | 0,237 | 0,6426 | 0,6426 | 0,4884 | 0,9625 | 2,5105 | 1,0493 |
15 | 0,247806 | 2,704 | 0,426 | 0,0046 | 0,0046 | 0,0412 | 0,0658 | 0,2629 | 0,0758 |
16* | 0,032735 | 0,703 | 0,831 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0055 | 0,0086 | 0,0338 | 0,0096 |
17 | 3,171021 | 13,699 | 0,212 | 0,7494 | 0,7494 | 0,5307 | 1,0030 | 3,4525 | 1,2970 |
18* | 0,659534 | 6,335 | 0,206 | 0,0324 | 0,0324 | 0,0227 | 0,0217 | 1,4107 | 0,3040 |
19* | 0,011756 | 0,643 | 0,357 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0007 | 0,8960 | 0,1793 |
20* | 0,023533 | 0,796 | 0,466 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0000 | 0,0026 | 0,0131 | 0,0032 |
21* | 0,065239 | 1,024 | 0,781 | 0,0003 | 0,0003 | 0,0047 | 0,0054 | 0,0363 | 0,0094 |
22* | 1,321593 | 7,04 | 0,335 | 0,1302 | 0,1302 | 0,0957 | 0,1147 | 0,9605 | 0,2863 |
23* | 0,006956 | 0,315 | 0,877 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0210 | 0,0034 | 0,0049 |
24* | 0,018611 | 0,529 | 0,836 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0014 | 0,0091 | 0,0022 |
25* | 0,048308 | 0,867 | 0,807 | 0,0003 | 0,0003 | 0,0002 | 0,0036 | 0,0237 | 0,0056 |
26* | 0,494258 | 4,82 | 0,267 | 0,0182 | 0,0182 | 0,0128 | 0,0313 | 0,2248 | 0,0611 |
27* | 0,060892 | 1,013 | 0,745 | 0,0003 | 0,0003 | 0,0002 | 0,0002 | 0,0219 | 0,0046 |
28* | 0,019246 | 0,561 | 0,767 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0002 | 0,0002 | 0,0001 |
29* | 0,267235 | 2,777 | 0,435 | 0,0053 | 0,0053 | 0,0037 | 0,0036 | 0,0033 | 0,0042 |
30* | 0,224746 | 2,357 | 0,508 | 0,0038 | 0,0038 | 0,0026 | 0,0027 | 0,0025 | 0,0031 |
31* | 0,032643 | 0,679 | 0,890 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0038 | 0,0008 |
32* | 0,002288 | 0,208 | 0,660 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0003 | 0,0001 |
33 | 0,21588 | 2,553 | 0,416 | 0,0035 | 0,0035 | 0,0024 | 0,0230 | 0,0359 | 0,0137 |
34 | 1,426084 | 10,284 | 0,169 | 0,1516 | 0,1516 | 0,2169 | 0,2568 | 0,2673 | 0,2088 |
35* | 0,004234 | 0,244 | 0,890 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0213 | 0,0007 | 0,0044 |
36 | 0,902957 | 5,467 | 0,380 | 0,0608 | 0,0608 | 0,0426 | 0,1719 | 0,1692 | 0,1010 |
37 | 1,484792 | 10,396 | 0,173 | 0,1643 | 0,1643 | 0,2258 | 0,3405 | 0,2728 | 0,2336 |
38* | 0,028311 | 0,867 | 0,473 | 0,0001 | 0,0001 | 0,0096 | 0,0138 | 0,0127 | 0,0073 |
39* | 0,036934 | 1,137 | 0,359 | 0,0001 | 0,0002 | 0,0283 | 0,0180 | 0,0166 | 0,0126 |
40 | 9,664724 | 29,211 | 0,142 | 6,9612 | 6,9612 | 4,9078 | 4,7013 | 4,3434 | 5,5749 |
41 | 0,208765 | 2,027 | 0,638 | 0,0032 | 0,0032 | 0,0023 | 0,0022 | 0,0492 | 0,0120 |
42 | 3,389933 | 10,322 | 0,400 | 0,8564 | 0,8564 | 0,9997 | 0,9567 | 0,9311 | 0,9201 |
43 | 2,2553 | 13,652 | 0,152 | 0,3791 | 0,3791 | 0,6651 | 0,6365 | 0,6025 | 0,5325 |
Média | 2,307234 | 8,099 | 0,450 | 2,3256 | 2,3256 | 3,4076 | 3,5302 | 3,6641 | 3,0506 |
44 | 6,830301 | 20,566 | 0,203 | 3,4768 | 3,4768 | 2,8544 | 5,7923 | 6,9696 | 4,5140 |
45 | 10,499245 | 18,503 | 0,385 | 8,2152 | 8,2152 | 5,7587 | 5,5110 | 5,0914 | 6,5583 |
46 | 8,91234 | 14,719 | 0,517 | 5,9195 | 5,9195 | 4,1494 | 3,9710 | 3,6687 | 4,7256 |
47 | 4,599478 | 11,266 | 0,455 | 7,3059 | 7,3059 | 5,2377 | 6,7827 | 13,1032 | 7,9471 |
Considerando apenas as 20 áreas do PECSol localizadas em porções terrestres, o IC médio cai para 0,277, valor limítrofe entre as classes de maior e intermediária suscetibilidade a efeitos de borda. Essa diferença nos ICs entre fragmentos de ilhas e não-ilhas deve-se à necessidade, quando da demarcação das áreas de vegetação remanescente que comporiam o parque, de se desviar dos elementos antrópicos já consolidados na paisagem, como as pastagens, salinas e assentamentos urbanos, criando assim diversas reentrâncias nos desenhos dos polígonos. As ilhas, em contrapartida, são cercadas apenas por água e possuem naturalmente formas mais arredondadas, o que contribui para seus bons valores de IC.
Ressalta-se que apenas o formato de um fragmento não permite dizer de fato o quanto ele é acometido por efeitos de borda. Além do formato, também deve se considerar seu tamanho (
O valor médio das menores distâncias entre os fragmentos do PECSol é de 451,6m, o que significa que o parque possui uma boa conectividade para espécies com capacidade de dispersão igual ou maior que este valor. Aquelas com capacidade de dispersão menor, entretanto, tendem a ter suas populações isoladas em determinados fragmentos. Ressalta-se, porém, que estas distâncias foram calculadas de acordo com o menor caminho em linha reta entre os fragmentos. A distância, todavia, não é o único fator determinante no sucesso da dispersão de um organismo. A matriz entre as manchas de habitat também influencia esse sucesso, sendo ela mais ou menos permeável de acordo com seu tipo e com a espécie focal (
O valor médio do Índice Integral de Conectividade (IIC) para o PECSol, obtido a partir das análises com cinco valores de dispersão distintos (50m, 100m, 500m, 1.000m e 2.000m), foi de 0,00077894. Este valor é consideravelmente baixo, indicando que o PECSol sozinho exerce uma função pouco eficaz na disponibilidade de habitat para as espécies que vivem no CDVCF. Os fragmentos que apresentaram os maiores valores médios de dIIC, em ordem decrescente, foram: 1, 3, 2, 13, 40 e 4. Os três primeiros, todos do Núcleo Massambaba, apresentaram valores entre 18% e 58%, o que denota uma importância maior deste Núcleo em comparação aos demais no quesito de disponibilidade de habitat, conforme se observa na Figura
Deve-se destacar que esta análise de conectividade levou em conta apenas as áreas pertencentes ao PECSol e as considerou inteiras como áreas naturais, o que não necessariamente é verdadeiro. Para realizar uma análise diagnóstica do estado atual de conectividade do CDVCF seria necessário mapear todas as áreas naturais remanescentes, independente de estarem sob algum regime de proteção. O objetivo dessa análise, porém, foi de avaliar qual a contribuição da implementação do PECSol para a conectividade do CDVCF.
Há quatro extensas áreas de vegetação natural no CDVCF que não estão sob regime de proteção por Unidade de Conservação de Proteção Integral: a Ilha de Cabo Frio, a porção vegetada da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), a área de restinga na Estação Radiogoniométrica da Marinha em Campos Novos (ERMCN), e as Dunas do Peró. Se incorporadas ao PECSol, o valor médio do IIC subiria para 0,00096636, ou seja, essas áreas promoveriam um aumento na sua conectividade e disponibilidade de habitat de 24%. Seus valores de dIIC variam entre 4,5% e 8%, superiores à maior parte dos fragmentos do PECSol (ver Tabela
A Ilha de Cabo Frio, a BAeNSPA e a ERMCN são de responsabilidade da Marinha do Brasil, com rigidez na restrição ao acesso, o que contribui para o bom estado de conservação dessas áreas. Porém, o uso pela Marinha não garante a mesma perpetuidade de proteção que a conversão em Unidade de Conservação conferiria, visto que se as atividades da Marinha forem encerradas nessas áreas elas ficarão vulneráveis a usos mais intrusivos. A adesão destas áreas ao PECSol, entretanto, talvez gerasse conflitos de uso com as atividades da Marinha. Ainda assim, recomenda-se ao Poder Público estudar uma maneira de incluir essas áreas em Unidades de Conservação sem inviabilizar a presença da Marinha. A criação de uma nova categoria de Unidade de Conservação em áreas tuteladas às Forças Armadas, como sugerido por
As Dunas do Peró apresentaram o melhor dIIC dentre as quatro áreas analisadas (ver Tabela
Destaca-se aqui, além dos dispositivos legais citados por
Art. 1° – Ficam criados os “Parques das Dunas” em todo o Estado do Rio de Janeiro.
Art. 2° – Os parques a que se refere o artigo 1° deverão ter como área as regiões onde existirem dunas.
Art. 3° – As regiões referidas no artigo 2° deverão ser demarcadas “in loco”, mapeadas em escala adequada e fiscalizadas pela Secretaria de Meio Ambiente.
Art. 4° – Não se permitirá o desmembramento, construção de prédios ou expansão de construções existentes nas áreas referidas no artigo 2°. (
O próprio decreto de criação do PECSol elenca como uma de suas justificativas que este deve considerar “a criação do Parque das Dunas do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei Estadual n° 1.807, de 03 de abril de 1991, que necessita de demarcação in loco, mapeamento e fiscalização do órgão ambiental estadual” (
As análises das pressões das atividades no entorno dos fragmentos sobre eles exercidas, dos seus tamanhos e formatos e sua suscetibilidade a efeitos de borda, e da sua conectividade dentro da paisagem apontam que o Parque Estadual da Costa do Sol, por si só e da maneira como foi concebido, não demonstra ser um instrumento efetivo na proteção da biodiversidade única do Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio. É pouco provável que todas as populações da fauna e da flora da região consigam se manter a longo prazo caso as áreas protegidas pelo Parque Estadual da Costa do Sol em sua configuração atual se tornem os últimos remanescentes de habitat natural da região.
É importante destacar, porém, que a criação do Parque Estadual da Costa do Sol não foi o único esforço de conservação adotado para o Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio. A fim de alcançar a proteção efetiva da biodiversidade da região é fundamental que haja uma gestão colaborativa de todos os órgãos e entidades responsáveis pelas demais Unidades de Conservação ali implementadas, sejam nacionais, estaduais ou municipais, de Uso Sustentável ou Proteção Integral. Para tal, recomenda-se a criação de um Mosaico de Unidades de Conservação da região, instrumento de gestão integrada previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (
Agradecemos a Claudio Belmonte de Athayde Bohrer e Felipe Mendes Cronemberger pela disponibilização dos dados necessários a essa pesquisa, e a Cyl Farney Catarino de Sá, Julia Celia Mercedes Strauch e aos revisores anônimos pelos importantes comentários tecidos em versões anteriores deste manuscrito.