Research Article |
Corresponding author: Diego Azevedo Zoccal Garcia ( diegoazgarcia@hotmail.com ) Academic editor: Ana Maria Leal-Zanchet
© 2019 Diego Azevedo Zoccal Garcia, Ana Paula Vidotto-Magnoni, Mário Luís Orsi.
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Citation:
Garcia DAZ, Vidotto-Magnoni AP, Orsi ML (2019) Características reprodutivas de peixes invasores no rio Paranapanema, bacia do alto rio Paraná, sul do Brasil. Neotropical Biology and Conservation 14(4): 511-528. https://doi.org/10.3897/neotropical.14.e49079
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Estudos sobre biologia reprodutiva podem fornecer explicações sobre o sucesso na colonização de novas áreas, dado que características biológicas associadas às espécies invasoras podem conferir vantagem na invasão. Objetivamos avaliar variações de características reprodutivas de peixes invasores em lagoas e rios livres de barragens. Foram estudadas populações de Serrasalmus marginatus, Loricariichthys platymetopon, Ossancora eigenmanni, Auchenipterus osteomystax e Trachelyopterus galeatus em habitat lêntico (Lagoas 1 e 2) e lótico (rios Pirapozinho e Anhumas) durante as estações seca e chuvosa. Fêmeas predominaram na maioria das populações (χ2, α < 0,05). Fêmeas de L. platymetopon e T. galeatus apresentaram maior índice gonadossomático durante a estação chuvosa no rio Anhumas e na Lagoa 2, respectivamente (teste de Mann-Whitney, α < 0,05). Populações de S. marginatus, L. platymetopon, O. eigenmanni e T. galeatus apresentaram atividade reprodutiva muito intensa na Lagoa 1. Trachelyopterus galeatus apresentou atividade reprodutiva muito intensa nas duas lagoas e no rio Pirapozinho. Enquanto algumas espécies exibem alto investimento reprodutivo, independentemente do tipo de habitat (T. galeatus), outras podem apresentar variações (S. marginatus e L. platymetopon). Fêmeas em maiores razões sexuais, alto investimento reprodutivo, cuidado parental, fertilização interna e desova parcelada podem ser características que favorecem o estabelecimento na área receptora. Serrasalmus marginatus e L. platymetopon apresentam estratégia de história de vida intermediária Equíbrio/Sazonal e Equilíbrio, respectivamente, enquanto A. osteomystax e T. galeatus apresentam estratégia Sazonal. Por apresentarem indivíduos que se dispersam, sobrevivem e se reproduzem em diferentes tipos de habitat, essas espécies possuem extensa área de ocorrência e invadiram com sucesso a bacia do alto rio Paraná. Portanto, são necessárias ações que controlem as populações e minimizem seus impactos.
Studies on reproductive biology can provide explanations for successful colonization of new areas, as biological characteristics associated with invasive species may confer advantage on invasion. We aimed at evaluating variations of reproductive characteristics of invasive fishes in lagoons and free-from-dam rivers. Populations of Serrasalmus marginatus, Loricariichthys platymetopon, Ossancora eigenmanni, Auchenipterus osteomystax and Trachelyopterus galeatus were studied in lentic (Lagoons 1 and 2) and lotic habitats (Pirapozinho and Anhumas rivers) during dry and wet seasons. Females predominated in most populations (χ2, α < 0.05). Females of L. platymetopon and T. galeatus presented higher gonadosomatic index during the wet season in the Anhumas River and Lagoon 2, respectively (Mann-Whitney test, α < 0.05). Populations of S. marginatus, L. platymetopon, O. eigenmanni, and T. galeatus showed very intense reproductive activity in Lagoon 1. Trachelyopterus galeatus showed very intense reproductive activity in the two lagoons and the Pirapozinho River. While some species exhibit high reproductive investment, regardless of habitat type (T. galeatus), others may present variations (S. marginatus and L. platymetopon). Females with higher sex ratios, high reproductive investment, parental care, internal fertilization and split spawning may be features that favor establishment in the recipient area. Serrasalmus marginatus and L. platymetopon have Equilibrium/Seasonal and Equilibrium life history strategy, respectively, while A. osteomystax e T. galeatus have Seasonal strategy. Due to the presence of individuals that are dispersed, survive and reproduce in different habitat types, these species have an extensive area of occurrence and have successfully invaded the Upper Paraná River basin. Therefore, actions are needed to control populations and minimize their impacts.
América do Sul, barragem, espécie não nativa, invasão biológica, recrutamento
biological invasion, dam, non-native species, recruitment, South America
Os ecossistemas de água doce estão entre os mais ameaçados no mundo (
Muitas espécies introduzidas que se tornam invasoras têm a capacidade de tolerar condições e características de ambientes diferentes (Williamson e Fitter 1996;
Características reprodutivas associadas às relações biológicas e ecológicas entre as espécies e os ambientes podem auxiliar no entendimento do sucesso das invasões. Assim, o conhecimento da história de vida das espécies em relação à reprodução, o crescimento, e a manutenção de população viável é importante para prever o sucesso e o impacto de novas invasões (Moyle e Marchetti 2006). Apesar da atenção que as espécies invasoras recebem, poucos dados sobre variações nas características reprodutivas estão disponíveis (
A construção de barragens hidrelétricas produz grandes reservatórios, considerados importantes facilitadores e vetores de introdução de espécies (
Assim, no presente trabalho, foi testada a hipótese de que peixes não nativos variam seu investimento reprodutivo entre diferentes tipos de habitat. Para tanto, objetivamos avaliar características reprodutivas de cinco espécies de peixes não nativos em habitat lêntico (lagoas) e lótico (rios livres de barragens) na bacia do rio Paranapanema, sul do Brasil. As espécies estudadas foram: a piranha Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1837 (Serrasalmidae, médio porte), o cascudo-chinelo Loricariichthys platymetopon Isbrücker & Nijssen, 1979 (Loricariidae, médio porte), o armado Ossancora eigenmanni (Boulenger, 1895) (Doradidae, pequeno porte) e os bagres palmitinho Auchenipterus osteomystax (Miranda-Ribeiro, 1918) e cangati Trachelyopterus galeatus Linnaeus, 1766 (Auchenipteridae, ambas de médio porte).
O rio Paranapanema é um dos maiores afluentes da Ecorregião do alto rio Paraná (
Os locais de estudo foram selecionados para representar esses ambientes lênticos e lóticos dentro do rio Paranapanema (Figura
Caracterização dos locais de amostragem na bacia do rio Paranapanema, sul do Brasil.
Local | Coordenadas | Habitat | Diâmetro/Largura (m) | Profundidade (m) | Fluxo médio (m s-1) | Vegetação ripária | Ocupação das margens |
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Lagoa 1 (L1) | 22°38'04,52"S, 52°09'40,86"O | Lêntico | 143,7 | 2,63 | 0 | Presente | – |
Lagoa 2 (L2) | 22°36'42,27"S, 52°09'31,81"O | Lêntico | 138,9 | 2,27 | 0 | Ausente | Pastagem |
Rio Pirapozinho (PZ) | 22°32'01,11"S, 52°01'38,29"O | Lótico | 20,7 | 4,34 | 0,37 | Presente | – |
Rio Anhumas (AN) | 22°38'47,55"S, 51°26'43,54"O | Lótico | 24,5 | 2,77 | 0,23 | Presente | – |
Os peixes foram capturados durante as estações seca (julho e setembro de 2014 e 2015) e chuvosa (janeiro e março de 2015 e 2016). Foram utilizadas 14 redes de emalhar (malhas de 2 a 14 cm entre nós opostos), com 1.000 m2 de rede por local. As redes foram dispostas ao pôr-do-sol e removidas na manhã seguinte, com aproximadamente 12 horas de exposição. Os espécimes foram anestesiados por imersão em solução aquosa com óleo de cravo (Comitê de Ética Animal da Universidade Estadual de Londrina n. 30992.2014.33). Após esse procedimento, os peixes foram fixados com 10% de formalina tamponada com carbonato de cálcio por 48 horas.
Em laboratório, os espécimes foram transferidos para etanol a 70% e identificados por meio de literatura especializada (
A captura por unidade de esforço (CPUE) padronizou quantos peixes adultos foram capturados em 1.000 m2 de rede por 12 horas de exposição. O método do qui-quadrado foi aplicado para avaliar a proporção sexual entre fêmeas e machos (χ2, α<0,05). O comprimento padrão mínimo na maturidade foi determinado de acordo com o comprimento de primeira maturação como o menor tamanho onde ocorrem indivíduos em estádio avançado de maturação gonadal, de acordo com Sato e Godinho (1988). O índice gonadossomático (IG) foi estabelecido para fêmeas e machos por estações seca e chuvosa com base na relação percentual entre o peso gonadal (WG) e o peso total (WT) para determinar o estado reprodutivo (IG=100WGWT-1). O peso dos estômagos foi subtraído para não interferir nos valores desse índice. Os valores médios do índice gonadossomático para as fêmeas em estádios capazes de desova nas duas estações (seca e chuvosa) foram comparados com o teste não paramétrico de Mann-Whitney (α<0,05). O índice de atividade reprodutiva (IR) foi estabelecido apenas para fêmeas e classificada como nula (IR≤2), incipiente (2<IR≤5), moderada (5<IR≤10), intensa (10<IR≤20) e muito intensa (IR>20), de acordo com a fórmula (
As seguintes características reprodutivas foram obtidas a partir da literatura, a fim de complementar e comparar com os dados do presente estudo: comprimento padrão de primeira maturação de fêmeas e machos (
A maior captura por unidade de esforço foi apresentada por A. osteomystax no rio Anhumas durante a estação chuvosa, com baixa ou nenhuma captura nos demais locais (Tabela
Captura por unidade de esforço (CPUE) e comprimento padrão médio (cm) de espécies de peixes invasores na bacia do rio Paranapanema, sul do Brasil, entre agosto de 2014 e março de 2016. A variação representa o desvio padrão.
Espécies | L1 | L2 | PZ | AN | ||||
Seca | Chuvosa | Seca | Chuvosa | Seca | Chuvosa | Seca | Chuvosa | |
S. marginatus | ||||||||
n | 3 | 8 | 0 | 3 | 0 | 3 | 0 | 8 |
CPUE | 1,4 | 3,6 | 0 | 1,4 | 0 | 1,4 | 0 | 3,6 |
Comprimento médio | 17,9 ± 4,2 | 18,7 ± 4,0 | – | 14,0 ± 8,2 | – | 16,8 ± 4,4 | – | 23,5 ± 3,8 |
Variação do comprimento | 15,2–22,8 | 10,3–22,5 | – | 8,8–23,5 | – | 13,7–21,8 | – | 18,0–29,5 |
L. platymetopon | ||||||||
n | 21 | 42 | 16 | 8 | 3 | 2 | 48 | 27 |
CPUE | 9,5 | 19,1 | 7,3 | 3,6 | 1,4 | 0,9 | 21,8 | 12,3 |
Comprimento médio | 21,7 ± 2,7 | 22,6 ± 2,2 | 21,7 ± 1,8 | 21,1 ± 2,7 | 21,8 ± 2,9 | 20,8 ± 0,7 | 17,0 ± 2,5 | 21,5 ± 2,9 |
Variação do comprimento | 15,3–25,2 | 18,3–26,5 | 18,3–24,7 | 17,5–25,5 | 19,8–25,2 | 20,3–21,3 | 13,4–22,3 | 16,0–25,7 |
O. eigenmanni | ||||||||
n | 1 | 5 | 0 | 4 | 0 | 0 | 8 | 7 |
CPUE | 0,5 | 2,3 | 0 | 1,8 | 0 | 0 | 3,6 | 3,2 |
Comprimento médio | 7,4 | 8,9 ± 0,6 | – | 7,4 ± 0,7 | – | – | 6,9 ± 0,4 | 7,6 ± 1,0 |
Variação do comprimento | – | 8,0–9,5 | – | 6,6–8,2 | – | – | 6,4–7,4 | 6,5–9,0 |
A. osteomystax | ||||||||
n | 0 | 0 | 1 | 2 | 0 | 0 | 3 | 88 |
CPUE | 0 | 0 | 0,5 | 0,9 | 0 | 0 | 1,4 | 40,0 |
Comprimento médio | – | – | 19,4 | 22,0 ± 2,8 | – | – | 13,0 ± 0,9 | 16,8 ± 1,1 |
Variação do comprimento | – | – | – | 20,0–24,0 | – | – | 12,0–13,7 | 14,5–19,6 |
T. galeatus | ||||||||
n | 15 | 52 | 9 | 34 | 0 | 16 | 5 | 8 |
CPUE | 6,8 | 23,6 | 4,1 | 15,5 | 0 | 7,3 | 2,3 | 3,6 |
Comprimento médio | 14,1 ± 1,3 | 14,6 ± 1.0 | 13,1 ± 1,0 | 14,1 ± 1,3 | – | 14,4 ± 1,3 | 14,1 ± 1,2 | 14,8 ± 1,6 |
Variação do comprimento | 12,7–16,7 | 11,4–17,7 | 11,0–14,4 | 10,7–18,0 | – | 12,5–17,2 | 12,5–15,5 | 12,0–17,0 |
Em geral, as proporções sexuais foram maiores para as fêmeas nas amostras e, além de S. marginatus no rio Pirapozinho, L. platymetopon no rio Anhumas e T. galeatus em todos os locais, desviaram-se significativamente de 1F:1M (Tabela
As populações de L. platymetopon no rio Anhumas e T. galeatus na Lagoa 2 apresentaram fêmeas com maiores valores de IG durante a estação chuvosa (teste de Mann-Whitney, p<0,05) (Tabela
Valores de qui-quadrado (χ2) aplicado à razão sexual, índice gonadossomático (IG), resultado do teste de Mann-Whitney e índice de atividade reprodutiva (IR) de peixes invasores na bacia do rio Paranapanema, sul do Brasil. LS<adu, comprimento padrão mínimo na maturidade; *, indica diferença significativa entre estações seca e chuvosa. A variação fornecida representa o desvio padrão. ‘-‘ indica poucos valores para a análise.
Espécies | Local | Razão sexual | χ2 | IG | IR | ||||||
Fêmeas | Machos | Fêmeas | |||||||||
LS <adu | Seca | Chuvosa | Teste de Mann-Whitney | LS<adu | Seca | Chuvosa | |||||
S. marginatus | L1 | 2:1 | 7,44* | 18,5 | 4,29 (±0,00) | 4,21 (±1,39) | – | 15,6 | 0,22 (±0,17) | 0,40 (±0,27) | 38,20 – muito intensa |
L2 | 2:1 | 11,11* | – | – | 2,79 (±2,98) | – | – | – | 0,48 (±0,00) | 0,00 – nula | |
PZ | 1:2 | 11,11* | 21,8 | – | 3,46 (±0,00) | – | 15,0 | – | 0,66 (±0,35) | 0,00 – nula | |
AN | 7:1 | 56,25* | 18,0 | – | 6,94 (±2,60) | – | – | – | 0,44 (±0,00) | 62,78 – muito intensa | |
L. platymetopon | L1 | 2:1 | 5,67* | 21,1 | 2,80 (±1,28) | 3,54 (±2,63) | α=0,5208 | 20,7 | 0,18 (±0,06) | 0,18 (±0,10) | 26,49 – muito intensa |
L2 | 2:1 | 6,25* | 22,5 | 0,86 (±0,32) | 5,73 (±3,43) | α=0,0777 | – | 0,09 (±0,04) | 0,25 (±0,16) | 11,46 – muito intensa | |
PZ | 2:1 | 4,00* | 20,3 | 1,58 (±0,00) | 5,87 (±0,27) | – | – | 0,09 (±0,02) | – | 5,62 – moderada | |
AN | 1:1 | 1,44 | 19,3 | 0,93 (±1,29) | 7,34 (±2,95) | α<0,0001* | 19,5 | 0,10 (±0,06) | 0,19 (±0,19) | 10,55 – intensa | |
O. eigenmanni | L1 | 2:1 | 11,11* | 8,6 | – | 6,79 (±6,39) | – | 8,9 | 0,17 (±0,00) | 1,42 (±0,00) | 25,26 – muito intensa |
L2 | 3:1 | 25,00* | – | – | 1,10 (±0,44) | – | – | – | 0,85 | 2,61 – incipiente | |
PZ | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | |
AN | 2:1 | 4,00* | 7,4 | 0,72 (±0,23) | 6,38 (±0,53) | α=0,0556 | – | 0,09 (±0,00) | 1,69 (±1,19) | 4,96 – incipiente | |
A. osteomystax | L1 | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – |
L2 | 3:0 | 100,00* | – | 0,45 (±0,00) | 1,57 (±0,10) | – | – | – | – | 0,00 – nula | |
PZ | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | |
AN | 6:1 | 51,02* | 14,6 | – | 5,37 (±2,73) | – | 14,5 | 0,11 (±0,09) | 2,80 (±1,41) | 19,25 – intensa | |
T. galeatus | L1 | 1:2 | 8,04* | 12,7 | 3,89 (±2,04) | 4,60 (±2,21) | α=0,6088 | 13,5 | 4,09 (±1,15) | 4,90 (±2,71) | 43,35 – muito intensa |
L2 | 1:1 | 0,49 | 12,7 | 1,30 (±1,58) | 4,72 (±2,82) | α=0,0077* | 14,0 | 0,98 (±0,98) | 2,42 (±2,53) | 30,33 – muito intensa | |
PZ | 1:1 | 0,00 | 12,5 | – | 6,19 (±1,14) | – | 14,5 | – | 6,77 (±3,21) | 36,47 – muito intensa | |
AN | 1:1 | 0,59 | 13,2 | 4,85 (±3,80) | 4,92 (±1,97) | α>0,9999 | 14,5 | 0,52 (±0,003) | 5,46 (±2,84) | 15,13 – intensa |
Os dados da literatura revelaram que S. marginatus tem o período reprodutivo mais longo (oito meses) (
Características reprodutivas de espécies de peixes invasores baseadas em dados de litetatura. * indica espécie com poucos dados na literatura.
Espécies | Comprimento padrão de primeira maturação (cm) | Período reprodutivo | Guilda reprodutiva | Tipo de desova | Diâmetro de oócitos maduros (µm) | Fecundidade (número de oócitos) | Estratégia de história de vida | Referências para fecundidade |
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S. marginatus | Fêmea: 12,2 | De setembro a abril | Não migradora, fertilização externa, cuidado parental | Parcelada | 1.816,3 | Máxima: 752 | Intermediária Equilíbrio/Sazonal |
|
Macho: 11,5 | Média: 584 | |||||||
L. platymetopon | Fêmea: 15,7 | De outubro a março | Não migradora, fertilização externa, cuidado parental | Parcelada | 3.197,1 | Máxima: 1,451 | Equilíbrio |
|
Macho: 14,5 | Média: 962,1 |
|
||||||
Máxima: 850 |
|
|||||||
Máxima: 1.594,6 | ||||||||
Média: 663,95 | ||||||||
O. eigenmanni | * | * | Não migradora, fertilização externa, sem cuidado parental | Parcelada | * | * | * | * |
A. osteomystax | Fêmea: 15,3 | De setembro a novembro | Migradora de curta distância, fertilização interna, sem cuidado parental | Parcelada | 1.315,9 | 14.950 | Sazonal |
|
Macho: 14,7 | ||||||||
T. galeatus | Fêmea F: 10,8 | De novembro a fevereiro | Migradora de curta distância, fertilização interna, sem cuidado parental | Parcelada | 1.615,3 | 10.330 | Sazonal |
|
Macho: 11,3 |
Fêmeas em maiores razões sexuais, alto investimento reprodutivo, cuidado parental e/ou fertilização interna podem ser características biológicas responsáveis pelo sucesso no estabelecimento de peixes na bacia do alto rio Paraná. Além disso, enquanto algumas espécies exibem alto investimento reprodutivo, independentemente do tipo de habitat onde ocorrem (por exemplo, T. galeatus nas lagoas e no rio Pirapozinho), outras podem apresentar acentuada variação espacial (S. marginatus e L. platymetopon). Desse modo, corrobora-se a hipótese de que peixes não nativos variam o investimento reprodutivo em diferentes tipos de habitat.
Ambientes lênticos criados pelo represamento, tais como as lagoas, podem facilitar a invasão de algumas espécies de peixes (
Essas espécies invadiram a bacia do alto rio Paraná após a inundação da barreira natural do Salto de Sete Quedas para o enchimento do reservatório de Itaipu em 1982 (
O ajuste reprodutivo é uma característica da história de vida necessária para a colonização e a estabilidade das espécies em diferentes habitats, visto que os colonizadores são capazes de variar de acordo com as novas condições do ambiente (Williamson e Fitter 1996; Moyle e Marchetti 2006). Após a colonização inicial, se as espécies introduzidas investem fortemente em atributos reprodutivos, podem tornar a população auto-sustentável, ou seja, estabelecida (
Em geral, as espécies generalistas têm grande área de distribuição e alta frequência de ocorrência em sua área nativa. Também pode ocorrer o mesmo quando tais espécies são introduzidas em novas áreas. Portanto, é comum que espécies com essas características autoecológicas se tornem invasoras quando introduzidas em novas áreas (Williamson e Fitter 1996;
O cuidado parental ou a fertilização interna (i.e., esperma depositado dentro do corpo da fêmea com gonopódio do macho) são características presentes em outras espécies invasoras na bacia do alto Paraná (Agostinho e Júlio Jr. 1999). Embora os peixes com qualquer estratégia de história de vida possam invadir, o sucesso na invasão é mais provável em espécies com cuidado parental (
As características reprodutivas intrínsecas, como a atividade reprodutiva e o cuidado parental, podem ter beneficiado a colonização de diferentes tipos de habitat por L. platymetopon na bacia do alto rio Paraná. Loricariichthys platymetopon é capaz de apresentar alta abundância em todos os biótopos e sua atividade reprodutiva é considerada maior em habitat lêntico e semi-lótico (
No reservatório de Rosana, as maiores capturas de espécies com fertilização interna são de A. osteomystax e T. galeatus. Outros representantes de Auchenipteridae e nativos do rio Paranapanema são o bocudinho Tatia neivai (Ihering, 1930) e o manduvê Ageneiosus militaris Valenciennes, 1835. As espécies invasoras tiveram suas abundâncias aumentadas no reservatório de Rosana e na planície de inundação do alto rio Paraná, especialmente em áreas lênticas e no reservatório de Itaipu (
Auchenipterus osteomystax utiliza o rio Anhumas como área de reprodução. Dentre as demais espécies, A. osteomystax possui o período reprodutivo mais curto e a maior fecundidade registrada (
As cinco espécies avaliadas possuem desova parcelada e sazonal (
A baixa captura de Ossancora eigenmanni pode estar relacionada ao mesmo que ocorreu com a invertívora Trachydoras paraguayensis (Eingenmann & Ward, 1907) (Doradidae) (
Em resumo, não há um conjunto de características capazes de prever quais espécies de peixes terão sucesso na invasão (Moyle e Marchetti 2006). Contudo, tanto as características biológicas (i.e., invasividade) quanto a área invadida (invasibilidade) podem facilitar o estabelecimento e a dispersão. O cuidado parental de S. marginatus (estratégia de história de vida intermediária Equilíbrio/Sazonal) e L. platymetopon (estratégia Equilíbrio), a fertilização interna de A. osteomystax e T. galeatus (estratégia Sazonal), proporção sexual tendendo para fêmeas, desova parcelada, oócitos grandes e adesivos, e maior fecundidade parecem ser características importantes para o estabelecimento e manutenção de populações abundantes. Além das características biológicas reprodutivas, outras características biológicas (como espinhos nas nadadeiras) podem prevenir ou interromper a eficiência dos predadores nessas espécies favorecendo seu estabelecimento. Portanto, características de vida de peixes invasores devem ser estudadas sob diferentes aspectos para entender seus efeitos potenciais sob a dinâmica populacional e assim se propor ações para se evitar novas introduções ou gerar medidas para controlar ou erradicar essas espécies. Por fim, sugerimos que essas espécies tenham sua pesca liberada e incentivada por órgãos responsáveis a fim de controlar as populações e minimizar seus impactos.
Os autores agradecem A. Casimiro, A. Costa, A. Souza, E. Santana e M. Yabu pela assistência durante as amostragens de campo; F. Jerep (MZUEL) pela ajuda na identificação dos espécimes; e Ana Maria Leal-Zanchet e revisores anônimos pelas sugestões. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. O trabalho também recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CPNq) (n. 455580/2014-6).