Research Article |
Corresponding author: Sandra Cristina Müller ( sandra.muller@ufrgs.br ) Academic editor: Patricia Nunes-Silva
© 2019 Camila Fonseca Schinestsck, Sandra Cristina Müller, Valério D. Pillar.
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Citation:
Schinestsck CF, Müller SC, Pillar VD (2019) Padrões espaciais da vegetação lenhosa associados ao processo de expansão da Floresta com Araucaria sobre Campos excluídos de manejo. Neotropical Biology and Conservation 14(4): 411-429. https://doi.org/10.3897/neotropical.14.e47885
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O processo de expansão florestal tem sido observado em regiões de mosaicos de campo-floresta no Sul do Brasil, especialmente em campos excluídos de fogo e pastejo. Outros fatores influenciam esse processo, porém a magnitude ainda permanece pouco compreendida. Neste estudo, avaliamos os padrões da vegetação lenhosa estabelecida num campo excluído de manejo por 34 anos, relacionando-os com variáveis de solo e espaço. Estabelecemos 110 parcelas (113 m2 cada) de forma sistemática sobre áreas mapeadas como campos em 1985, na Estação Ecológica de Aracuri, Rio Grande do Sul, Brasil. Foram amostrados todos os indivíduos lenhosos e variáveis de solo. Análises de ordenação e de partição da variância da composição de espécies nos componentes solo, espaço, e solo estruturado no espaço foram empregadas. Os padrões da vegetação foram melhor explicados pelo espaço, principalmente a distância da área fonte florestal. Comunidades mais próximas da antiga borda florestal são caracterizadas por mais espécies e indivíduos com dispersão zoocórica. Áreas mais distantes têm predomínio de arbustos campestres (Baccharis uncinella) e poucas arbóreas se estabeleceram. O solo apresentou baixa explicação (5%), porém as condições modificam-se conforme o desenvolvimento florestal avança. Concluímos que a expansão florestal em área excluída de distúrbios tem forte associação com o espaço – a distância de áreas fonte, e que os fatores edáficos pouco contribuem com a magnitude do avanço sobre o campo.
The forest expansion process has been observed in forest-grassland mosaics regions in the south of Brazil, mainly over grasslands excluded from cattle grazing and fire. Other factors influence this process, but the magnitude remains almost unknown. Here, we evaluated woody species community patterns on a grassland area, excluded from management for 34 years, relating them to soil and space variables. We established 110 plots (113 m2 each) over areas that were mapped in 1985 as grasslands, in the Estação Ecológica de Aracuri, Rio Grande do Sul, Brazil. All woody individuals and soil variables were sampled in the plots. Ordination analyses and partial redundancy analysis were applied on these data to meet our aims. Vegetation patterns were better explained by spatial variables, especially concerning the distance from the forest source. Communities closer to the old forest border were characterised by forest species – higher richness and density of zoocoric species. In the most distant border areas, grassland shrubs (Baccharis uncinella) still prevail with few established trees. Although soil had a low proportion of vegetation variance explanation (5%), this situation, however, changes as forest development advances. We conclude that forest expansion in excluded grassland areas is strongly associated with space – the forest source distance and that the effect of soil factors in this process is negligible.
Expansão florestal, mosaico floresta-campo, vassoural, sucessão, Sul do Brasil
forest expansion, grassland-forest mosaic, shrubland, succession, southern Brazil
A expansão de florestas sobre ecossistemas campestres é um processo observado em diferentes região do mundo que apresentam paisagens com mosaicos de campo-floresta (
Nas condições atuais, tanto o pastejo pelo gado quanto o fogo são apontados como fatores-chave na manutenção da fisionomia e diversidade de plantas campestres nas regiões de mosaicos com floresta (
Além dos efeitos de mudanças climáticas globais e efeitos de distúrbios, outras variáveis locais, como distância de uma área-fonte florestal, orientação predominante do relevo, presença de matacões (afloramentos rochosos), características de solo, frequência e intensidade de geadas, podem influenciar os padrões de adensamento e expansão florestal (
Este estudo objetivou avaliar padrões de comunidades de plantas numa área de ecótono campo-floresta sob a perspectiva de processos relacionados à expansão florestal, avaliando a relação entre a composição e estrutura da vegetação lenhosa que se desenvolveu sobre uma área de campo excluído de manejo por 34 anos com fatores de solo e espaço. Como principal hipótese, conjeturamos que a limitação de dispersão, uma função predominantemente associada à distância da fonte de propágulos, é preponderante em relação à influencia de variáveis edáficas. Mais especificamente buscamos responder as seguintes questões: (i) Quais são os padrões do avanço florestal sobre as áreas de campo excluído de manejo em termos de composição de espécies lenhosas? (ii) Existe relação entre estes padrões, o espaço e variáveis edáficas? (iii) Existe relação entre riqueza de espécies lenhosas e densidade de espécies zoocóricas estabelecidas na área de campo com a distância de áreas-fonte florestais?
O presente estudo foi realizado na Estação Ecológica de Aracuri (EEA), município de Muitos Capões, Rio Grande do Sul (28°13'S, 51°10'W), Brasil. A EEA foi criada em 1981 (Decreto Federal n° 86061/1981) e desde então as áreas originalmente campestres estão sob exclusão de qualquer manejo (fogo e pastejo) (Supl. material
Em termos geológicos, a EEA situa-se na Formação Serra Geral, apresentando relevo suavemente ondulado, com solos do tipo Latossolo Bruno Câmbico álico (LBCa) (
Para o delineamento amostral, utilizamos o mapa de vegetação da EEA de 1984 (
As UAs consistiram de parcelas circulares de 6 m de raio, o que perfaz 113 m2 cada. Todos os indivíduos lenhosos, exceto lianas, que apresentassem diâmetro do caule à altura do solo (DAS) maior ou igual a 5 cm foram amostrados entre 2008 e 2009. Dentro de cada UA de 113 m2, foram demarcadas três sub-parcelas de 1 m de raio para avaliar os indivíduos com DAS < 5 cm e altura mínima de 1 m. Para cada indivíduo amostrado foram registrados, além do DAS, a espécie e a altura, estimada com o auxílio de estacas de um metro de comprimento. As espécies que não puderam ser identificadas no campo foram coletadas para posterior determinação através de chaves de identificação, consulta ao Herbário ICN do Departamento de Botânica da UFRGS e auxílio de especialistas. As espécies foram categorizadas nas famílias botânicas conforme a classificação da APG-IV 2017 (
Cada UA também foi descrita pelas seguintes variáveis ambientais: distância mínima de área-fonte florestal (distância em metros da área florestal mais próxima, mapeada em 1984) e fatores químicos e físicos do solo. A coleta de solo foi realizada com trado calador, entre 0–20 cm de profundidade, com quatro sub-amostras dispostas aleatoriamente na UA. O solo foi coletado e analisado em 72 das 110 UAs, sendo estas bem distribuídas por toda a área amostral. O material coletado foi encaminhado para o Laboratório de Análises de Solo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para análise seguindo métodos descritos em
Os dados coletados foram organizados em três matrizes: de unidades amostrais (UAs) por espécies, descritas pela área basal, UAs por variáveis edáficas, UAs pelas coordenadas geográficas (X e Y). Além disso, calculamos a frequência, cobertura e densidade absolutas e relativas de cada espécie a fim de estimar o índice de valor de importância das espécies amostradas na área de estudo (
Os padrões de estrutura e composição florística foram descritos a partir da Análise de Coordenadas Principais (PCoA) sobre os dados das espécies descritas pela área basal nas comunidades (UAs), utilizando a distância de corda como medida de dissimilaridade entre UAs (
A relação entre riqueza de espécies lenhosas e densidade de espécies zoocóricas com a distância em relação à borda foi avaliada com regressões lineares, sendo transformadas as variáveis que não apresentavam distribuição normal (log10 para densidade de zoocóricas).
A relação entre as variáveis de solo e o espaço foi avaliada através de partição de variância por análise de redundância parcial (RDA parcial) (
Foram amostradas 55 espécies distribuídas em 25 famílias botânicas (Tabela
A densidade total de indivíduos estimada para um hectare foi 1.298 indivíduos com mais de 5 cm de DAS e 11.372 indivíduos com tamanho entre < 5 cm de DAS e maior de 1 m de altura. Porém, ao excluir os indivíduos mortos em pé, esses valores passam para 1.155 e 8.498, respectivamente.
Relação das famílias e espécies lenhosas amostradas em zona de expansão florestal na Estação Ecológica de Aracuri, localizada no sul do Brasil, seus valores de importância (VI) e performances médias (área basal; dm2/m2) nos grupos (Gr.) formados na análise de agrupamentos (vide Fig.
Família | Espécie | Rótulo | VI (%) | Gr. 1 | Gr. 2 | Gr. 3 | |
---|---|---|---|---|---|---|---|
– | Indivíduo morto | Inmo | – | 14,71 | 1074,00 | 1949,10 | 624,91 |
Anacardiaceae | Lithraea brasiliensis Marchand | Libr | Z | 8,68 | 527,39 | 3784,50 | 3470,00 |
Schinus lentiscifolius Marchand | Scle | Z | 4,57 | 276,64 | 1706,60 | 830,53 | |
Schinus polygamus (Cav.) Cabrera | Scpo | Z | 1,31 | 130,20 | 401,15 | – | |
Schinus terebinthifolius Raddi | Scte | Z | 0,26 | 0,001 | 21,22 | 86,68 | |
Annonaceae | Rollinia rugulosa Schltdl. | Roru | Z | 0,18 | – | 0,013 | 14,06 |
Araucariaceae | Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze | Aran | Z | 10,22 | 559,82 | 1100,80 | 21120,00 |
Asteraceae | Baccharis articulata (Lam.) Pers. | Baar | NZ | 0,39 | 0,004 | 0,003 | 0,000 |
Baccharis dracunculifolia DC. | Badr | NZ | 1,49 | 7,35 | 5,033 | 0,055 | |
Baccharis helichrysoides DC. | Bahe | NZ | 0,07 | – | 0,009 | – | |
Baccharis microdonta DC. | Bami | NZ | 1,65 | 24,86 | 0,021 | 0,074 | |
Baccharis uncinella DC. | Baun | NZ | 13,11 | 7856,50 | 969,31 | 112,60 | |
Eupatorium inulifolium Kunth | Euin | NZ | 0,33 | 0,0004 | 0,002 | 0,000 | |
Eupatorium polystachyum DC. | Eupo | NZ | 0,44 | 7,81 | 0,025 | 73,50 | |
Eupatorium serratum Spreng. | Euse | NZ | 7,67 | 152,73 | 75,18 | 20,47 | |
Eupatorium cf. tremulum Hook. & Arn. | Eutr | NZ | 0,13 | 0,016 | 0,000 | – | |
Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho. | Gopo | NZ | 0,80 | 47,27 | 474,99 | 0,038 | |
Trixis sp. | Trsp | NZ | 0,49 | 0,005 | 0,001 | 0,003 | |
Vernonanthuria montevidensisflorida Gardner | Vemo | NZ | 0,05 | – | 10,91 | – | |
Berberidaceae | Berberis laurina Billb. Berberidaceae | Bela | Z | 1,37 | 0,014 | 16,88 | 0,025 |
Canellaceae | Cinnamodendron dinisii (Schwacke) | Cadi | Z | 0,18 | – | 5,003 | 0,015 |
Celastraceae | Monteverdia ilicifolia (Mart. Ex Reissek) Biral | Mamu | Z | 0,17 | – | – | 42,14 |
Erythroxylaceae | Erythroxylum deciduum A. St.-Hil. | Erde | Z | 0,07 | – | – | 0,030 |
Escalloniaceae | Escallonia bifida Link & Otto | Esbi | Z | 2,79 | 109,51 | 1341,30 | 716,47 |
Escallonia petrophila Rambo & Sleumer | Espe | Z | 0,28 | 95,98 | 17,31 | – | |
Lauraceae | Cinnamomum amoenum (Nees & Mart.) Kosterm. | Ciam | Z | 0,77 | 10,77 | 431,62 | 0,036 |
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez | Neme | Z | 0,43 | – | 370,53 | – | |
Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez | Ocpu | Z | 0,24 | – | 34,24 | – | |
Malvaceae | Pavonia dusenii Krapov. | Padu | NZ | 0,13 | – | 0,001 | 0,001 |
Primulaceae | Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem & Schult. | Myco | Z | 10,68 | 483,23 | 3034,30 | 1381,00 |
Myrtaceae | Acca sellowiana (O. Berg) Burret | Acse | Z | 0,70 | 8,79 | 98,86 | 0,008 |
Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg | Blsa | Z | 0,18 | – | 21,41 | – | |
Calyptranthes concinna DC. | Caco | Z | 0,10 | – | 6,05 | 36,65 | |
Campomanesia aurea O. Berg | Caau | Z | 0,07 | 0,004 | – | ||
Myrceugenia euosma (O. Berg) D. Legrand | Myeu | Z | 0,37 | 34,73 | 0,001 | 105,39 | |
Myrcia oblongata DC. | Mybo | Z | 2,23 | 15,95 | 591,41 | 40,72 | |
Myrcia hartwegiana (O. Berg) Kiaersk | Myha | Z | 0,28 | – | 0,001 | 134,07 | |
Myrcia palustris DC. | Mypa | Z | 0,13 | – | 0,002 | 0,021 | |
Myrciaria cuspidata O. Berg | Mycu | Z | 0,05 | – | 5,61 | – | |
Oleaceae | Ligustrum sp. | Lija | Z | 0,05 | – | 6,27 | – |
Pinaceae | Pinus sp. | Pisp | NZ | 0,05 | 13,27 | – | – |
Quillajaceae | Quillaja brasiliensis (A. St.-Hil. & Tul.) Mart. | Qubr | NZ | 0,57 | 96,47 | 241,02 | 14,06 |
Rhamnaceae | Rhamnus sphaerosperma Sw. | Rhsp | Z | 4,38 | 102,42 | 90,77 | 75,30 |
Scutia buxifolia Reissek | Scbu | Z | 0,24 | – | 14,45 | 530,73 | |
Rosaceae | Prunus myrtifolia (L.) Urb. | Prmy | Z | 0,19 | 4,96 | 22,60 | |
Rutaceae | Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. | Zafa | Z | 0,13 | 0,001 | – | 0,004 |
Zanthoxylum rhoifolium Lam. | Zarh | Z | 0,32 | 0,038 | 0,010 | 36,91 | |
Salicaceae | Banara parviflora (A. Gray) Benth. | Bapa | Z | 0,09 | 53,46 | – | – |
Sapindaceae | Allophylus edulis (A. St.-Hil. et al.) Hieron. Ex Niederl. | Aled | Z | 0,23 | – | 52,70 | 0,036 |
Cupania vernalis Cambess. | Cuve | Z | 0,12 | – | 5,45 | – | |
Matayba elaeagnoides Radlk. | Mael | Z | 0,10 | – | – | 99,54 | |
Solanaceae | Solanum pabstii L.B. Sm. & Downs | Sopa | Z | 0,72 | 170,76 | 109,44 | – |
Styracaceae | Styrax leprosus Hook. & Arn. | Stle | Z | 1,44 | 139,71 | 202,32 | 412,68 |
Symplocaceae | Symplocos tetrandra Mart. | Syte | Z | 0,21 | – | 7,46 | 0,008 |
Symplocos uniflora (Pohl) Benth. | Syun | Z | 3,29 | 216,27 | 898,73 | 959,26 | |
Thymelaeaceae | Daphnopsis racemosa Griseb. | Dara | Z | 0,13 | 0,008 | – | 0,021 |
TOTAIS | 12.221 | 18.124 | 30.938 |
A análise de agrupamentos revelou três grupos nítidos que refletem um gradiente entre áreas com predomínio de B. uncinella (Grupo 1), áreas com maior densidade de espécies florestais, principalmente próximas da antiga borda florestal e núcleos (Grupo 3), e áreas intermediárias mistas com arbustos e espécies florestais pioneiras (Grupo 2). No diagrama de ordenação (Figura
Diagrama de ordenação (Análise de Coordenadas Principais) da composição florística traduzida pela cobertura de área basal, utilizando distância de corda entre unidades amostrais como medida de semelhança. As unidades amostrais estão identificadas por classes de distância em relação à borda florestal, sendo: 0 = na borda; 1 = 1 a 50 m; 2 = 51 a 100 m; 3 = 101 a 150 m; 4 = 151 a 200 m; 5 = 201 a 300 m; 6 = 301 a 400 m; 7 = 401 a 500 m; 8 = 501 a 600 m; e 9 = >601 m. As espécies que apresentaram correlação, com pelo menos um dos eixos, superior a 0,3, estão indicadas no diagrama pelos seguintes códigos: Aran = Araucaria angustifolia; Baun = Baccharis uncinella; Mamu = Maytenus muelleri; Myrco = Myrsine coriacea ; Libr = Lithraea brasiliensis; Scle = Schinus lentiscifolius; Scpo = Schinus polygamus; Syun = Symplocos uniflora. A percentagem da variação explicada foi de 34,2% para o eixo 1 e 16,45% para o eixo 2. As elipses contornam as unidades amostrais correspondentes aos três grupos nítidos obtidos através da análise de agrupamento.
Esses mesmos grupos fisionômicos também apresentaram diferenças em relação às variáveis edáficas, conforme demonstrou a MANOVA (P < 0,05). O solo das unidades de vegetação arbórea mais desenvolvida (grupo 3) difere do vassoural (grupo 1) e do grupo intermediário (grupo 2), porém o vassoural e o intermediário não diferiram entre si. As médias das variáveis de solo para cada grupo estão apresentadas na Tabela
Valores médios das variáveis edáficas considerando os mesmos grupos de UAs identificados na Fig.
Variáveis de solo | Vassoural (Grupo 1) | Intermediário (Grupo 2) | Florestal (Grupo 3) |
Argila (%) | 71,091 | 66,953 | 49,429 |
H2O (pH) | 4,259 | 4,339 | 4,700 |
SMP | 4,877 | 4,881 | 5,086 |
P (mg/dm3) | 4,109 | 2,607 | 2,714 |
K (mg/dm3) | 93,500 | 87,047 | 81,857 |
M.O. (%) | 5,273 | 5,567 | 7,1857 |
Al (cmolc/dm3) | 3,391 | 2,728 | 1,471 |
Ca (cmolc/dm3) | 2,541 | 3,284 | 6,829 |
Mg (cmolc/dm3) | 1,486 | 1,760 | 3,100 |
Al+H (cmolc/dm3) | 17,368 | 16,979 | 14,629 |
CTC (cmolc/dm3) | 21,577 | 22,193 | 24,714 |
%SAT.CTC (Bases) | 21,727 | 24,907 | 40,714 |
%SAT.CTC (Al) | 45,745 | 36,863 | 17,786 |
Relação Ca/Mg | 1,650 | 1,788 | 1,928 |
Relação Ca/K | 12,091 | 17,279 | 31,714 |
Relação Mg/K | 7,032 | 9,009 | 14,571 |
A distância da antiga borda florestal foi um bom preditor do número de espécies lenhosas (R2ajustado: 0,229; F= 34,38; GL= 108; P < 0,05) e a densidade de espécies zoocóricas (R2ajustado: 0,236; F= 33,39; GL= 108; P < 0,05) (Figura
A análise de RDA parcial revelou que solo e espaço juntos explicam 26% (i.e. R2ajustado; R2= 38%) da variação observada na vegetação lenhosa que avança sobre o campo, sendo altamente significativa (P < 0,001). O subconjunto ótimo de variáveis de solo utilizado na RDAp foi composto por pH, MO, Al, Ca.K-1, e Al + H. O subconjunto ótimo de variáveis do espaço foi composto pelos PCNMs 1, 2, 4, 6 e 32 (Supl. material
Proporção de explicação da variação da matriz de comunidades descrita pelas espécies explicada pelas variáveis de solo e de espaço (PCNMs), de acordo com a análise de RDA parcial. O componente (b) compreende a variação atribuída ao ambiente estruturado no espaço. 73% da variação permaneceu não-determinada. Tanto ambiente puro (solo | espaço) quanto espaço puro (espaço | solo) foram significativos (P < 0,05).
Este trabalho avaliou os padrões de expansão florestal em uma área originalmente campestre, excluída de distúrbios de pastejo e fogo por 34 anos, na região de mosaicos campo-floresta do Planalto Meridional Brasileiro. Os resultados demonstraram um claro padrão de expansão predominantemente a partir da borda florestal, uma vez que várias espécies arbóreas florestais tiveram maior abundância junto à borda. As comunidades mais distantes da borda apresentaram predomínio de arbustos, principalmente B. uncinella, e poucos indivíduos de espécies arbóreas. A distância da borda está associada à maior explicação dos padrões da vegetação pelo componente espacial (12%), especialmente considerando os PCNMs 1 e 2 (Supl. material
As famílias que mais contribuíram em termos de riqueza e abundância indicam a ocorrência de comunidades em estágio inicial de desenvolvimento florestal, ou seja, em franco processo de expansão da floresta sobre áreas originalmente campestres. As espécies de Asteraceae predominantes são pioneiras anemocóricas, como por exemplo B. uncinella e E. serratum. Em campos sob manejo, elas apresentam baixas densidades (
Os locais com vegetação arbórea mais desenvolvida se caracterizam especialmente pelas espécies pioneiras florestais L. brasiliensis, M. coriacea e S. lentiscifolius e pela própria A. angustifolia. Estas espécies têm sido consideradas nucleadoras por seu papel facilitador na expansão florestal sobre campos, tanto por atraírem dispersores, quanto por promoverem alterações nas condições ambientais sob suas copas (
Os três grupos nítidos das comunidades avaliadas revelaram um padrão espacial associado a um processo temporal, onde a expansão florestal encontra-se mais avançada quanto mais próxima da borda. Nas comunidades próximas da borda a cobertura relativa de A. angustifolia foi bem maior que sua densidade relativa, pois os indivíduos são de grande porte. Estes indivíduos estão há mais tempo estabelecidos (
A proximidade da área fonte teve um claro efeito sobre a riqueza e densidade de espécies zoocóricas, evidenciando o papel da fauna na expansão da floresta sobre o campo (
A características do solo também evidenciaram uma variação associada ao gradiente sucessional. O pH, os teores de Ca e Mg trocáveis, a matéria orgânica e a saturação de bases foram mais altos nas unidades com vegetação florestal mais desenvolvida, enquanto o teor de Al foi mais alto no vassoural. Altos teores de Al trocável em solos ácidos, como nos solos desta região, podem limitar o crescimento de plantas por bloquear a disponibilidade dos outros nutrientes (
Neste estudo observamos uma clara expansão florestal sobre áreas campestres excluídas de fogo e pastejo. Os padrões avaliados evidenciam processos de colonização de arbóreas tanto a partir da borda, quanto em núcleos espacialmente mais distantes da área fonte que acabam coalescendo com a matriz arbustiva. Quanto mais próximo da borda original da floresta, mais antigas são as comunidades, caracterizando-se por espécies mais tipicamente florestais. Nas áreas mais distantes da borda predominam arbustos campestres e, sob suas copas, o estabelecimento das espécies florestais parece ser limitado, seja por uma baixa pressão de propágulos ou por limitação de recursos. As características do solo têm papel secundário na expansão florestal e a associação observada entre solo e vegetação indica uma modificação nas características do solo à medida que o desenvolvimento florestal progride. Assim, áreas originalmente campestres em unidades de conservação em regiões de mosaicos campo-floresta do Sul do Brasil, sob exclusão total de distúrbios de fogo e/ou pastejo, tendem à mudança fisionômica para um estado florestal, alterando a biota local antes associada a áreas abertas.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora e pelo apoio ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS via Programa de Excelência Acadêmica (PROEX) e Portal de Periódicos. A todos que auxiliaram na coleta de dados e identificação botânica das espécies e aos revisores anônimos que contribuíram com sugestões e comentários na primeira versão do manuscrito.
Figura S1
Data type: multimedia
Explanation note: Imagens de fotografia aérea do ano de 1965 na região de abrangência da Estação Experimental de Aracuri, localizada no sul do Brasil, indicando o padrão de mosaico floresta-campo (a) com detalhe em escala de 1:60000 (b). As imagens estão direcionadas para o norte. A imagem (c) corresponde ao mapeamento realizado em 1984 (
Figura S2
Data type: multimedia
Explanation note: Distribuição espacializada dos PCNMs selecionados e utilizados na análise de RDAp (vide texto para detalhes), considerando o espaço da área de estudo na Estação Experimental de Aracuri, localizada no sul do Brasil (compare a estrutura espacial com a área de campo amostrada, esquematizada abaixo).