Research Article |
Corresponding author: Maria Cristina de Oliveira ( mcrisoliveira@unb.br ) Academic editor: Ana Maria Leal-Zanchet
© 2019 Maria Cristina de Oliveira, Jussara Barbosa Leite, Olga Porto da Silva Galdino, Roberto Shojirou Ogata, Dulce Alves da Silva, José Felipe Ribeiro.
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Citation:
de Oliveira MC, Leite JB, da Silva Galdino OP, Ogata RS, da Silva DA, Ribeiro JF (2019) Sobrevivência e crescimento de espécies nativas do Cerrado após semeadura direta na recuperação de pastagem abandonada. Neotropical Biology and Conservation 14(3): 313-327. https://doi.org/10.3897/neotropical.14.e38290
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Considerando que estudos sobre a sobrevivência e o crescimento das espécies nativas via semeadura direta nas savanas brasileiras ainda são escassos, este trabalho acrescenta informações para essa técnica com 36 espécies arbóreas nativas do bioma Cerrado com relação a emergência, sobrevivência e crescimento no campo ao longo de três anos. Assim, 11.550 sementes foram semeadas em 2.520 covas, espaçadas 1 × 1 m, em duas áreas de 5.000 m2 cada, em área de pastagem abandonada em solo do tipo Neossolo Regolítico na Fazenda Entre Rios, Distrito Federal, Brasil. Cada cova recebeu de duas a dez sementes de uma espécie, sem qualquer tratamento de quebra de dormência. A taxa de emergência foi avaliada após 120 dias, e a sobrevivência das emergentes após um, dois e três anos. Além disso, seu crescimento em altura foi avaliado após três anos. Das 36 espécies, quatro apresentaram entre 10% e 20% de emergência e quatro (Copaifera langsdorffii, Hymenaea courbaril, Eugenia dysenterica e Stryphnodendron adstringens) acima de 20% e sobrevivência >80%, após um ano. Nesse mesmo período, 24 das espécies testadas apresentaram taxa de sobrevivência >60%. No geral, a taxa média de sobrevivência dos indivíduos nos três anos foi baixa (53%). Devido ao típico crescimento lento em altura observado para os indivíduos das espécies de Cerrado consideradas (média de 10,8 cm em três anos), na recuperação de áreas similares é importante também levar em conta o plantio de outras formas de vida (herbáceas e arbustivas) de espécies nativas, talvez até em densidades mais elevadas, para ocupar mais rapidamente o solo e assim buscar competir com as gramíneas exóticas.
Considering that studies on the survival and growth of native species via direct seeding in Brazilian savannas are still scarce, the present work adds information for this technique with 36 native tree species of the Cerrado biome in relation to emergence, survival and growth in the field over three years. Thus, 11,550 seeds were sown in 2,520 pits, spaced 1×1 m, in two areas of 5,000 m2 each, in an abandoned pasture area on a Neossolo Regolítico soil at Fazenda Entre Rios, Federal District, in central Brazil, to evaluate emergence, survival and growth. Each pit received from two to ten seeds of a species, without any treatment of dormancy breaking. The emergency rate was evaluated after 120 days, and the survival of the emergents after one, two and three years. In addition, its height growth was evaluated after three years. Of the 36 species, four presented between 10% and 20% emergence and four (Copaifera langsdorffii, Hymenaea courbaril, Eugenia dysenterica and Stryphnodendron adstringens) above 20% and survival >80% after one year. In this same period, 24 of the tested species presented survival rate >60%. In general, the average survival rate of individuals in the three years was low (53%). Due to the typical slow growth in height of the individuals of the Cerrado species considered (average of 10.8 cm in three years), in the recovery of similar areas, it is also important to consider the planting of other forms of life (herbaceous and shrub) of native species, perhaps even at higher densities, to occupy the soil more quickly and thus seek to compete with exotic grasses.
bioma Cerrado, diásporo, restauração ecológica
Cerrado biome, diaspore, ecological restoration
Localizadas em extensas regiões nos trópicos e internacionalmente conhecidas como Biomas Tropicais Graminosos, fisionomias campestres e savânicas ocupam 20% da superfície terrestre (
No bioma Cerrado, o representante dos biomas tropicais graminosos no Brasil, a realidade não é diferente. Atualmente, cerca de 46% da área total já foi alterada por mudanças no uso do solo para formação de pastagem, agricultura e expansão urbana, determinando assim as maiores ameaças a esse bioma
Ecossistemas naturais apresentam diferentes estratégias de reprodução que possibilitam superar os efeitos da degradação. Nas fisionomias savânicas e campestres do bioma Cerrado, o potencial de regeneração da vegetação está mais relacionado à presença de estruturas subterrâneas que permitam a rebrota do que com o recrutamento por dispersão de sementes (
Outro grande desafio é o fato de que essas áreas, quando mal manejadas ou mesmo abandonadas, são dominadas por gramíneas africanas, como a braquiária, capim-gordura, andropogon, além de outras espécies utilizadas para o pastejo do gado. Pelos obstáculos criados para a germinação de sementes e para o estabelecimento de plântulas de espécies nativas,
No bioma Cerrado, espécies florestais são frequentemente empregadas para restaurar áreas originalmente cobertas por fisionomias savânicas e campestres (
Apesar de diminuir custos em até 40% com redução de mão de obra e viveiro, a semeadura direta ainda apresenta a limitação de prorrogar o tempo de competição com plantas invasoras. Essa prorrogação acontece devido ao desenvolvimento mais lento das formas de vida das espécies nativas que assim permanecem no nível do estrato herbáceo por mais tempo (
Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo avaliar o sucesso de emergência, sobrevivência e crescimento de 36 espécies nativas arbóreas do bioma Cerrado semeadas em microsítios favoráveis em um tipo de solo, visando sua indicação em plantios de restauração por semeadura direta para o bioma.
O experimento foi realizado em duas áreas de pastagem abandonada em Neossolo Regolítico na Fazenda Entre Rios (15°57'30"S; 47°27'26"W) localizada na rodovia DF 120, Paranoá, Distrito Federal, Brasil. Originalmente, as áreas eram cobertas por Campo Sujo e posteriormente foram convertidas em pastagens. Essas práticas foram suspensas dois anos antes do início da instalação do presente estudo. As áreas estavam praticamente dominadas pela gramínea exótica Urochloa decumbens (Stapf) R. D. Webster (braquiária) (aproximadamente 100% de cobertura e altura média de 40 cm) (observação pessoal). A paisagem geral da fazenda é caracterizada pelo mosaico de áreas agrícolas, pastagens e fragmentos de remanescentes de Cerrado sensu stricto e de Matas Galeria.
O clima da região é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen-Geiger, com verão chuvoso e inverno seco e frio. A temperatura média anual é de 21 °C, com média máxima de 22 °C em setembro e média mínima de 18 °C em julho e média de precipitação de 1.500 mm (
As espécies foram escolhidas em função da sua ocorrência natural nas fitofisionomias próximas da área a ser restaurada corroboradas pelas indicações oferecidas pelo site do WebAmbiente (www.webambiente.org.br). As sementes/propágulos foram coletadas ao longo do ano de 2013 em áreas naturais localizadas relativamente próximas ao local de estudo (raio de 200 Km), ao longo de aproximadamente um ano, dependendo da fenologia de cada uma das 36 espécies arbóreas selecionadas (Tabela
Espécies arbóreas nativas do bioma Cerrado utilizadas na semeadura direta realizada em duas áreas de pastagem abandonada em Neossolo Regolítico na Fazenda Entre Rios, Distrito Federal, Brasil.
Família | Espécie | Mês de coleta | Semente/ cova | Semente/ área |
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Anacardiaceae | Astronium fraxinifolium Schott | Setembro | 3 | 210 |
Schinopsis brasiliensis Engl. | Outubro | 10 | 700 | |
Myracrodruon urundeuva Allemão | Setembro | 5 | 350 | |
Annonaceae | Annona crassiflora Mart. | Março | 4 | 280 |
Apocynaceae | Hancornia speciosa Gomes | Setembro | 10 | 700 |
Arecaceae | Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd ex Mart. | Setembro | 2 | 140 |
Syagrus oleracea (Mart.) Becc. | Setembro | 2 | 140 | |
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman | Setembro | 2 | 140 | |
Bignoniaceae | Cybistax antisiphylitica (Mart.) Mart. | Julho | 4 | 280 |
Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose | Janeiro | 3 | 210 | |
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f ex S. Moore | Setembro | 3 | 210 | |
Boraginaceae | Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. | Setembro | 3 | 210 |
Calophyllaceae | Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. | Setembro | 3 | 210 |
Caryocaraceae | Caryocar brasiliense Cambess. | Dezembro | 2 | 140 |
Combretaceae | Terminalia argentea Mart. | Setembro | 5 | 350 |
Fabaceae | Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart | Setembro | 5 | 350 |
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan | Setembro | 3 | 210 | |
Bowdichia virgilioides Kunth | Agosto | 10 | 700 | |
Copaifera langsdorffii Desf. | Outubro | 3 | 210 | |
Dalbergia miscolobium Benth. | Julho | 4 | 280 | |
Dimorphandra mollis Benth. | Agosto | 10 | 700 | |
Dipteryx alata Vogel | Outubro | 3 | 210 | |
Hymenaea courbaril L. | Setembro | 2 | 140 | |
Inga cylindrica (Vell.) Mart. | Setembro | 3 | 210 | |
Jacaranda cuspidifolia Mart. | Agosto | 4 | 280 | |
Plathymenia reticulata Benth. | Dezembro | 3 | 210 | |
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville | Agosto | 10 | 700 | |
Malvaceae | Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott & Endl. | Novembro | 2 | 140 |
Guazuma ulmifolia Lam. | Agosto | 10 | 700 | |
Meliaceae | Cedrela fissilis Vell. | Julho | 4 | 280 |
Myrtaceae | Eugenia dysenterica (Mart.) DC. | Setembro | 3 | 210 |
Polygonaceae | Triplaris gardneriana Wedd. | Agosto | 4 | 280 |
Rubiaceae | Alibertia edulis (Rich.) A. Rich | Janeiro | 10 | 700 |
Genipa americana L. | Março | 3 | 210 | |
Solanaceae | Solanum lycocarpum A.St.-Hil. | Setembro | 5 | 350 |
Vochysiaceae | Qualea grandiflora Mart. | Setembro | 3 | 210 |
Após a coleta dos propágulos, estes foram processados de acordo com a característica da espécie e como descrito em
A semeadura direta manual com 36 espécies foi realizada no início da época chuvosa do ano de 2013 (dezembro), nas duas áreas, 100×50 m (5.000 m2), cada, localizadas em locais relativamente inclinados (10%). Antes da instalação do experimento não foi realizado qualquer tratamento de eliminação da invasora nas áreas. Em cada área foram feitas manualmente covas (0,30 cm de diâmetro e 5 cm de profundidade), espaçadas em 1×1 m, em grupos de 36 espécies, totalizando 70 covas para cada espécie e 2.520 covas por área (Fig.
Esquema da distribuição das sementes das 36 espécies testadas na semeadura direta em duas áreas (100 × 50 m cada) de pastagem abandonada em Neossolo Regolítico na Fazenda Entre Rios, Distrito Federal, Brasil. Os números de 1 a 36 representam a posição das espécies em cada bloco, sendo 1 – Alibertia edulis; 2 – Bowdichia virgilioides; 3 – Dimorphandra mollis; 4 – Guazuma ulmifolia; 5 – Hancornia speciosa; 6 – Schinopsis brasiliensis; 7 – Stryphnodendron adstringens; 8 – Albizia niopoides; 9 – Inga cylindrica; 10 – Anadenanthera colubrina; 11 – Annona crassiflora; 12 – Astronium fraxinifolium; 13 – Caryocar brasiliense; 14 – Cedrela fissilis; 15 – Copaifera langsdorffii; 16 – Cordia trichotoma; 17 – Cybistax antisiphylitica; 18 – Dalbergia miscolobium; 19 – Dipteryx alata; 20 – Eugenia dysenterica; 21 – Genipa americana; 22 – Handroanthus serratifolius; 23 – Hymenaea courbaril; 24 – Hymenaea courbaril; 25 – Kielmeyera coriacea; 26 – Syagrus romanzoffiana; 27 – Myracrodruon urundeuva; 28 – Plathymenia reticulata; 29 – Qualea grandiflora; 30 – Tabebuia aurea; 31 – Terminalia argentea; 32 – Triplaris gardneriana; 33 – Solanum lycocarpum; 34 – Acrocomia aculeata; 35 – Eriotheca pubescens; 36 – Syagrus oleracea.
O senso de emergência de plantas foi feito 120 dias (março/2014) após a semeadura (fim da estação chuvosa) e o de sobrevivência após 1 ano (novembro/2014), 2 anos (novembro/2015) e 3 anos (novembro/2016) e de crescimento em altura após 3 anos (novembro/2016).
No campo, a emergência foi definida pelo número de plântulas observadas 120 dias após a semeadura dividido pelo número de sementes semeadas. A taxa de sobrevivência desses emergentes para o primeiro ano foi calculada comparando o número de plantas que sobreviveram 12 meses após semeadura dividida pelo número de plântulas que emergiram. A sobrevivência para o segundo ano foi calculada comparando o número de plantas que estavam vivas após 24 meses dividida pelo número de plântulas que emergiram aos 120 dias. Finalmente, o cálculo da taxa de sobrevivência para o terceiro ano, foi calculada comparando o número de plantas que estavam vivas após 36 meses dividida pelo número de plântulas que emergiram aos 120 dias. A altura dos indivíduos foi medida utilizando régua graduada em milímetros, partindo-se da base do caule até a gema apical. Para as palmeiras a altura foi verificada medindo-se o tamanho da folha.
Após implantação do experimento no campo não foi realizada qualquer irrigação artificial, nem desbaste de plantas competidoras e ervas daninhas. Apenas nos dois primeiros anos foi realizado tratamento de combate a formigas nas áreas.
Das 28 espécies testadas, apenas 8 não germinaram em laboratório, mas, destas, 7 foram observadas com plântulas nas condições de campo (Tabela
Espécies, número total de sementes (N), germinabilidade média das sementes em laboratório (GL); média de plântulas emergentes após 120 dias; porcentagem média da sobrevivência em 1 ano, 2 anos e 3 anos; altura média ± desvio padrão após 3 anos da semeadura direta em duas áreas de pastagem abandonada em Neossolo Regolítico na Fazenda Entre Rios, Distrito Federal – Brasil. si – sem informação. a Lote com sementes predadas. b Lote com sementes fermentadas.
Espécies | N | GL (%) | Emergência 120 dias (%) | Sobrevivência 1 ano (%) | Sobrevivência 2 anos (%) | Sobrevivência 3 anos (%) | Altura 3 anos (cm) |
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Acrocomia aculeata | 140 | si | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | si |
Albizia hasslerii | 350 | 81,0 | 12,7 | 60,5 | 22,3 | 11,2 | 6,3 ± 4,3 |
Alibertia edulis | 700 | 0,0 | 7,9 | 83,5 | 80,6 | 78,5 | 4,7 ± 2,5 |
Anadenanthera colubrina | 210 | 0,0 | 3,3 | 66,7 | 14,6 | 14,6 | 3,7 ± 2,3 |
Annona crassiflora | 280 | 35,0 | 0,2 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 6,0 ± 3,0 |
Astronium fraxinifolium | 210 | 83,0 | 16,2 | 94,1 | 79,3 | 75,2 | 9,7 ± 4,8 |
Bowdichia virgilioides | 700 | 4,0 | 6,4 | 94,1 | 83,2 | 83,2 | 8,9 ± 3,8 |
Caryocar brasiliense | 140 | 4,0 | 2,9 | 100 | 100 | 100 | 25,8 ± 10,3 |
Cedrela fissilis | 280 | 58,0 | 3,4 | 21,1 | 0,0 | 0,0 | si |
Copaifera langsdorffii | 210 | 98,0 | 21,0 | 95,3 | 85,3 | 83,9 | 8,9 ± 4,4 |
Cordia trichotoma | 210 | si | 0,7 | 33,3 | 0,0 | 0,0 | si |
Cybistax antisiphylitica | 280 | 43,0 | 5,5 | 98,1 | 94,4 | 94,4 | 1,8 ± 1,3 |
Dalbergia miscolobium | 280 | 0,0a | 1,6 | 57,5 | 37,5 | 37,5 | 12,3 ± 5,5 |
Dimorphandra mollis | 700 | si | 7,3 | 82,5 | 58,4 | 48,1 | 8,0 ± 3,1 |
Dipteryx alata | 210 | 71,0 | 10,2 | 74,7 | 72,1 | 72,1 | 19,4 ± 4,7 |
Eugenia dysenterica | 210 | 0,0b | 34,3 | 97,5 | 97,5 | 95,8 | 7,4 ± 2,9 |
Eriotheca pubescens | 140 | 2,0 | 7,9 | 79,5 | 52,4 | 52,4 | 5,9 ± 11,8 |
Genipa americana | 210 | 0,0a | 0,5 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | si |
Guazuma ulmifolia | 700 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | si |
Hancornia speciosa | 700 | 0,0b | 2,4 | 94,1 | 85,4 | 68,1 | 5,2 ± 2,7 |
Handroanthus serratifolius | 210 | si | 5,7 | 52,3 | 38,6 | 13,6 | 3,4 ± 1,4 |
Hymenaea courbaril | 140 | si | 53,2 | 96,7 | 90,7 | 90,7 | 21,7 ± 7,1 |
Inga cylindrica | 210 | si | 30,2 | 78,1 | 40,3 | 30,0 | 16,0 ± 6,7 |
Jacaranda mimosifolium | 280 | 86,0 | 16,1 | 44,3 | 5,1 | 2,6 | 5,75 ± 0,3 |
Kielmeyera coriacea | 210 | 22,0 | 7,1 | 79,2 | 49,8 | 37,3 | 2,5 ± 1,6 |
Myracrodruon urundeuva | 350 | 0,0 | 2,3 | 70,0 | 41,7 | 41,7 | 14,7 ± 8,7 |
Plathymenia reticulata | 210 | 68,0 | 5,7 | 80,0 | 63,3 | 63,3 | 23,8 ± 13,9 |
Qualea grandiflora | 210 | 96,0 | 6,2 | 83,0 | 73,9 | 73,9 | 7,9 ± 4,0 |
Schinopsis brasiliensis | 700 | 78,0 | 3,3 | 87,0 | 51,0 | 37,8 | 4,5 ± 2,3 |
Solanum lycocarpum | 350 | 63,0 | 1,1 | 6,3 | 6,3 | 0,0 | si |
Stryphnodendron adstringens | 700 | 86,0 | 23,4 | 89,4 | 79,2 | 75,7 | 6,0 ± 3,2 |
Syagrus oleracea | 140 | si | 8,6 | 80,6 | 80,6 | 80,6 | 26,2 ± 15,5 |
Syagrus romanzoffiana | 140 | si | 4,6 | 34,6 | 26,9 | 15,4 | 15,8 ± 8,9 |
Tabebuia aurea | 210 | 99,0 | 34,3 | 76,9 | 65,4 | 64,5 | 3,1 ± 2,1 |
Terminalia argentea | 350 | 20,0 | 4,6 | 69,1 | 57,0 | 57.0 | 8,5 ± 2,9 |
Triplaris gardneriana | 280 | 37,0 | 6,3 | 55,4 | 19,4 | 5,3 | 4,3 ± 0,4 |
Após 120 dias, das 23.100 sementes e 36 espécies semeadas no início da estação chuvosa em duas áreas (10.000 m2), foram registradas no campo 1.993 plântulas.ha-1 (8,6%) pertencentes a 34 espécies arbóreas. Destas, 26 espécies apresentaram porcentagens de emergência menores que 10% e quatro apresentaram taxa entre 10% e 20%. Por outro lado, as espécies Copaifera langsdorffii Desf., E. dysenterica, Hymenaea courbaril L. e Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville apresentaram porcentagem de emergência >20% e, após um ano, sobrevivência >80%. As espécies Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd ex Mart. e G. ulmifolia não foram registradas com indivíduos no campo (Tabela
Após o primeiro ano, 24 das espécies testadas apresentaram taxa de sobrevivência >60% (Tabela
Por outro lado, Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart, A. colubrina, Dimorphandra mollis Benth., Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott & Endl., H. speciosa, Inga cylindrica (Vell.) Mart., Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc., M. urundeuva, Plathymenia reticulata Benth., Schinopsis brasiliensis Engl., Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f ex S. Moore e Terminalia argentea Mart. apresentaram altas taxas de sobrevivência, mas com significativa redução ao longo dos três anos (Tabela
No geral, as taxas de sobrevivência médias verificadas ao longo do 1o, 2o e 3o anos (64,3%, 48,7% e 44,7%, respectivamente) indicaram maior queda principalmente do 1o para o 2o ano.
Após três anos, praticamente todos os indivíduos apresentaram baixo crescimento em altura, com média de 10,8 cm (Tabela
A técnica de semeadura direta tem se mostrado eficaz na restauração da composição de espécies arbustivas, arbóreas e herbáceas (
Guazuma ulmifolia não germinou no laboratório e não foram encontradas plântulas no campo. Resultado similar foi encontrado por
A taxa média de sobrevivência para as espécies nos três anos do período do estudo foi baixa (53%), principalmente quando comparada à média de 67% encontrada por
Conforme apontam ainda os autores
Por outro lado, foi observado crescimento lento em altura das espécies arbóreas, similarmente aos resultados obtidos por
Considerando que estudos sobre sobrevivência e crescimento das espécies nativas via semeadura direta nas savanas brasileiras ainda são escassos, o presente estudo acrescenta informações para essa técnica com 36 espécies arbóreas nativas do bioma Cerrado com relação a emergência, sobrevivência e crescimento no campo em solo do tipo Neossolo Regolítico ao longo de três anos. Nas condições de solo pobre, raso e bem drenado de encosta presente na área de estudo, as espécies que se sobressaíram foram C. langsdorffii, E. dysenterica, H. courbaril e S. adstringens, que assim podem ser indicadas em práticas de recomposição de ambientes em condições similares. Tendo em vista o típico crescimento lento em altura dos indivíduos das espécies do bioma Cerrado estudadas no presente trabalho, é importante também considerar, na recuperação de áreas similares, o plantio de outras formas de vida (herbáceas e arbustivas) de espécies nativas, talvez até em densidades mais elevadas, para ocupar mais rapidamente o solo e assim buscar competir com as gramíneas exóticas.
Os autores expressam o seu agradecimento ao Projeto Biomas – Componente Cerrado, ao Programa de Iniciação Científica PIBIC – UnB, e aos revisores anônimos que, com os seus comentários, permitiram melhorar consideravelmente este artigo.